13 de janeiro de 2010

Jiddu Krishnamurti


Muitos de voces devem ter ficado impressionados com as palavras sabias daquele homem que fala logo no inicio de "Zeitgeist". Porém, embora possam andar pensativos sobre quem é esse senhor, eu venho aqui para vos dissipar as duvidas. Esse homem é Jiddu Krishnamurti, um filosofo e mistico indiano.
Krishnamurti nasceu em 1895, em Madanapalle (India). Com apenas treze anos foi "recrutado" para a Sociedade Teosofica. E com esta idade quem dirigia a Sociedade teosofica ja considerava Krishnamurti como uma das grandes mentes do Mundo. Apenas com quinze anos foi escolhido como chefe da ordem internacional da estrela do oriente, mas apos a morte de um dos seus irmãos rompeu todos os laços que tinha com estas organizações e descomprometeu-se por completo. Arrastava multidões que o ouviam, mas recusava ser considerado autoridade ou superior, e rejeitava constantemente ser conotado como lider espiritual. Krishnamurti dizia sempre que o ser humano tinha de proporcionar uma revolução individual e consciente, que para que alguma coisa mudasse era necessaria e preponderante uma revolução interior. Bem, mostro agora aqui algumas das reflexões mais importantes deste filosofo que se encontram no site do Instituto Ahau:

Sobre "Liberdade"

"Muitos filósofos têm escrito sobre a liberdade. Falamos sobre liberdade — liberdade para fazer o que quisermos, para ter o emprego de que gostamos, liberdade para escolher uma mulher ou um homem, liberdade para ler qualquer livro, ou liberdade para não ler absolutamente nada. Somos livres, e o que fazemos com essa liberdade? Usamos essa liberdade para nos expressarmos, para fazer aquilo de que gostamos. A vida está se tornando cada vez mais permissiva — você pode fazer amor no parque ou no jardim.
Temos toda espécie de liberdade, e o que temos feito com ela? Pensamos que onde há escolha há liberdade. Eu posso ir à Itália ou à França: é uma escolha. Mas a escolha dá liberdade? Por que temos que escolher? Se você é realmente lúcido, tem uma compreensão exacta das coisas, não há escolha. Disso resulta uma acção correcta. Apenas quando há dúvida e incerteza é que começamos a escolher. A escolha, então, se vocês me permitem dizê-lo, constitui um empecilho para a liberdade.
Nos estados totalitários não há liberdade alguma, pois eles têm a idéia de que a liberdade produz a degeneração do homem. Portanto, eles controlam, reprimem — vocês sabem o que está a acontecer.
Então, o que é liberdade? É algo que se baseia na escolha? É fazer exatamente o que queremos? Alguns psicólogos dizem que, se você sente alguma coisa, não deve reprimi-la ou controlá-la, mas deve expressá-la imediatamente. Jogar bombas é liberdade?veja apenas a que reduzimos a nossa liberdade!
A liberdade está lá fora, ou aqui dentro? Onde você começa a procurar pela liberdade? No mundo exterior — onde você expressa o que quer que você queira, a tal liberdade individual — ou a liberdade começa dentro de você, para então se expressar inteligentemente fora de você? Compreendeu a minha pergunta? A liberdade só existe quando não há confusão dentro de mim, quando, psicologicamente, religiosamente, não há o perigo de eu cair em nenhuma armadilha — você entende? As armadilhas são inúmeras: gurus, sábios, pregadores, livros excelentes, psicólogos e psiquiatras — tudo armadilhas. E se estou confuso e há desordem, não preciso, primeiro, me livrar dessa desordem antes de falar em liberdade? Se não tenho nenhum relacionamento com minha mulher, com meu marido, ou com outra pessoa — porque nossos relacionamentos são baseados em imagens — surge o conflito, que é inevitável onde há divisão. Então, não deveria eu começar por aqui, dentro de mim, na minha mente, no meu coração, a ser totalmente livre de todos os medos, ansiedades, desesperos, e das mágoas e feridas de que sofremos por causa de alguma desordem psíquica? Observe tudo por si mesmo e livre-se disso!
Mas, aparentemente, nós não temos energia. Nós dirigimo-nos aos outros para que nos dêem energia. Falando com o psiquiatra nós sentimo-nos aliviados — a confissão e tudo mais. Sempre dependendo de alguma outra pessoa. E essa dependência, inevitavelmente, causa conflito e desordem. Então, temos de começar a compreender a profundeza da liberdade; precisamos começar com aquilo que está mais perto: nós mesmos. A grandeza da liberdade, a verdadeira liberdade, a dignidade, a sua beleza, está em nós mesmos quando a ordem é completa. E essa ordem só vem quando somos uma luz para nós mesmos. "
Krishnamurti – Perguntas e Respostas – Ed. Cultrix


Ser um cidadão ou ser um homem bom?



"Se queremos paz, temos de compreender a correcta relação entre o homem e o cidadão. O Estado, naturalmente, prefere que sejamos só cidadãos; isso, entretanto, é a estupidez própria dos governos. Nós, de nossa parte, gostaríamos de entregar o homem ao cidadão; porque ser cidadão é muito mais fácil do que ser homem. Ser um bom cidadão é funcionar eficientemente dentro do padrão de uma sociedade. Eficiência e ajustamento são exigidos do cidadão, para torná-lo rijo e cruel - capaz de sacrificar o homem ao cidadão. Um bom cidadão não é necessariamente um homem bom; mas um homem bom não pode deixar de ser um bom cidadão - não de determinada sociedade ou nação.
Sendo, antes de tudo, um homem bom, suas acções não serão anti-sociais; ele não estará contra ninguém. Viverá em cooperação com os outros homens bons; não aspirará à autoridade porque desconhece a autoridade; será eficiente, sem ser cruel. O cidadão procura sacrificar o homem; mas o homem que busca a inteligência suprema, evitará naturalmente as acções estúpidas do cidadão. Por isso, o Estado estará contra o homem bom, o homem de inteligência; esse homem, entretanto, é independente de qualquer governo ou nação.
O homem inteligente criará uma sociedade boa; mas um bom cidadão não fará nascer uma sociedade em que o homem possa ser da mais alta inteligência. O conflito entre o cidadão e o homem é inevitável, quando o cidadão predomina; e qualquer sociedade, que deliberadamente despreza o homem, está condenada. Só haverá a reconciliação do homem e do cidadão quando o processo psicológico do homem for compreendido. Ao Estado, à sociedade presente, não interessa o homem interior, mas este sempre suplantará o exterior, destruindo os planos sagazmente engendrados para o cidadão. O Estado sacrifica o presente ao futuro e está sempre a proteger-se para o futuro; considera da máxima importância o futuro, e não o presente. Para o homem inteligente, porém, o presente é da mais alta importância, o agora e não o amanhã. O que é só pode ser compreendido com o desaparecimento do amanhã. A compreensão do que é produz a transformação no presente imediato. Esta transformação é que é de suma importância, e não a maneira de reconciliar o cidadão e o homem. Realizada a transformação, cessará o conflito entre o homem e o cidadão. "
Krishnamurti - Comentários sobre o viver - Cultrix



Sobre a Deterioração da Mente



"Um homem que está trabalhando, ganhando dinheiro, frequentando, regularmente um escritório, não se está deteriorando, aparentemente, pois está em actividade; ao cessar, porém, essa actividade, torna-se perceptível a deterioração.
A mente sujeita a uma rotina, seja a rotina de um escritório, de um rito, ou a rotina de um certo dogma, já se está a deteriorar, não é verdade?
Por certo, vale muito mais a pena descobrir as causas determinantes da deterioração da mente, do que inquirir por que razão o vosso vizinho se desintegra, quando se retira das actividades. Se pudermos realmente compreender só esta questão, talvez venhamos a conhecer a eternidade da mente.
Por que se deteriora a mente — não apenas a vossa, mas a mente do homem? Pode-se ver que o factor da deterioração surge quando a mente se transforma em máquina de hábito, quando a sua educação é mero exercício de memória, e quando se acha numa luta incessante, procurando ajustar-se a um padrão imposto de fora ou criado por ela própria.
Há medo, deterioração, destruição da mente, quando ela está constantemente a buscar segurança, ou quando onerada do desejo de preencher-se.
E tal é o nosso estado, não é verdade? Ou estamos na sujeição do hábito, da rotina, fazendo a mesma coisa sempre e sempre, exercitando-nos na virtude, ajustando-nos ao padrão de uma disciplina, para chegarmos a um certo resultado, para encontrarmos segurança psicológica ou material; ou, ainda, estamos a competir, a fazer esforços inauditos, na nossa ambição de sucesso mundano.
Certo, é isso o que cada um de nós está fazendo, e, por conseguinte, já pusemos em funcionamento o mecanismo da deterioração. Se qualquer dessas reações existe em nós, em qualquer nível que seja, estamo-nos deteriorando.
Pois bem. Pode a mente renovar-se com frequência? Pode a mente ser criadora momento por momento?
Não me refiro à criação compreendida como mera atividade de planear e expressar, compreendida como capacidade ou aplicação de uma técnica. Não me estou referindo à criação sob nenhum desses aspectos. Mas pode a mente experimentar o desconhecido? Sem dúvida, só no estado de não cognoscibilidade não há deterioração.
Qualquer outro estado acarretará, por força, o envelhecer da mente. Como qualquer mecanismo posto a funcionar seguidamente durante dias, semanas, meses e anos, a mente, sempre em actividade, se deteriora, inevitavelmente.
Enquanto fizerdes uso da vossa mente como se fosse máquina, para realizar, produzir, ganhar, tendes em vós as sementes da deterioração, da velhice e da decrepitude. E quer se trate de um menino de dezesseis anos ou de um velho de sessenta, o “processo” é o mesmo.
Nós, porém, em geral, não estamos cônscios (conscientes) desse processo de deterioração. Estamos cônscios, apenas, de nos acharmos entre as rodagens da máquina de prazeres e dores e sofrimentos, e da nossa luta para sairmos dela.
A mente, pois, nunca está quieta, despreocupada; sempre se acha envolvida com alguma coisa: com Deus, com o comunismo, com o capitalismo, com o enriquecer, com a opinião dos outros ou... com a cozinha. Com quantas coisas anda ela ocupada! Como está constantemente ocupada, nunca é livre, jamais tranquila.
Só a mente que está tranquila — não por estar insensibilizada, mas por encontrar-se naquele estado de silêncio que é criador — só essa mente pode suster a deterioração.
A imunidade à deterioração não é possível à mente que se preenche pelo exercício de capacidades. A medida que nos tornamos mais idosos, a capacidade esmorece. Podeis ser um pianista exímio; com o envelhecer, porém, vem o reumatismo, vêm os achaques, vem a cegueira, ou podeis ser vitimado por um acidente.
A mente que anda à procura de preenchimento, em qualquer sentido, em qualquer nível, já contém em si a semente da destruição. E o “eu” que quer preencher-se, quer tornar-se alguma coisa; vendo-se vazio, frustrado, busca o “eu” preenchimento em minha família, meu filho, minha propriedade, minha idéia, minha experiência.
Quando reconhecemos tudo isso e percebemos-lhe os perigos, só então a mente pode estar vazia momento por momento, dia por dia, não embargada pela carga do passado ou pelo temor do futuro.
O viver naquele momento não é nenhuma coisa fantástica, só concedida a uns poucos. Afinal de contas, como disse, cada um de nós vive num mundo de sofrimento, luta, dor, efêmera alegria, e cada um de nós deve encontrar aquela coisa desconhecida; ela não foi reservada só para um e negada aos demais. É juntos que podemos criar um mundo novo; mas este mundo novo não pode nascer da revolução exterior, que produz decomposição.
A mente se deteriora quando busca um fim, quando se submete à autoridade, nascida do temor. Há um definhar-se da mente, quando não há autoconhecimento, e o autoconhecimento não é uma coisa que se possa aprender de um livro. Ele tem de ser descoberto a cada momento, o que requer uma mente vigilante em extremo; e a mente não está vigilante quando achou um fim.
Assim, o factor que acarreta a deterioração se encontra em nossas próprias mãos. A mente, presa à experiência, vivendo da experiência, nunca encontrará o incognoscível. O incognoscível só pode manifestar-se quando o passado já não existe; e só não existe passado, quando a mente está tranquila."
Krishnamurti – Percepção Criadora – Ed. Ediouro



Sobre o vazio existencial



"O nosso problema está no facto de a nossa vida ser vazia e de não conhecermos o amor; conhecemos sensações, conhecemos a publicidade, conhecemos exigências sexuais, mas não há amor. E como se faz para transformar esse vazio, como encontrar essa chama sem fumaça? Esta é por certo a pergunta, não é? Então, vamos descobrir juntos a verdade desse assunto.
Por que a nossa vida é vazia? Embora sejamos muito activos, embora escrevamos livros e frequentemos o cinema, embora nos divirtamos, amemos e vamos ao escritório, nossa vida é vazia, tediosa, mera rotina. Por que os nossos relacionamentos são tão superficiais, estéreis e sem muito sentido? Conhecemos a nossa vida suficientemente bem para saber que a nossa existência tem muito pouco significado; citamos frases e idéias que aprendemos — o que fulano ou beltrano disseram, o que os mahatmas, os santos mais recentes ou os antigos santos disseram. Se não for um líder religioso, seguimos um líder político ou intelectual, seja Marx, Adler ou Cristo. Somos apenas fitas gravadas que repetem, e damos a esse repetição o nome de conhecimento. Aprendemos, repetimos, e a nossa vida continua extremamente superficial, entediante e repulsiva. Por quê? Por que é assim? Por que atribuímos tanta importância às coisas da mente? Por que a mente veio a se tornar tão importante na nossa vida — quando digo mente refiro-me às idéias, ao pensamento, à capacidade de racionalizar, de avaliar, de sopesar, de calcular? Por que damos uma ênfase tão extraordinária à mente? O que não significa que devamos nos tornar emotivos, sentimentais e melosos. Conhecemos esse vazio, esse extraordinário sentimento de frustração. Por que há na nossa vida essa vasta superficialidade, esse sentimento de negação? Não há dúvida de que só podemos compreendê-lo quando o abordamos por meio da consciência do relacionamento.
O que de facto está acontecendo nos nossos relacionamentos? Nossos relacionamentos não constituem um auto-isolamento? Não são todas as actividades da mente um processo de salvaguarda, de busca de segurança, de isolamento? Não é esse pensamento, que dizemos ser colectivo, um processo de isolamento? Não é toda  a acção da nossa vida um processo de auto-encerramento? Vocês podem vê-lo na sua vida diária. A família tornou-se um processo de auto-isolamento e, sendo isolada, deve existir em oposição. Assim, todas as nossas acções estão levando ao auto-isolamento, que cria essa sensação de vazio; e, sendo vazios, procuramos preencher o vazio com rádios, com barulho, com tagarelices, com fofocas, com a leitura, com a aquisição de conhecimento, com a respeitabilidade, o dinheiro, a posição social e por aí fora. Mas tudo isso é parte do processo de isolamento e, portanto, apenas reforça o isolamento. Assim, para a maioria de nós, a vida é um processo de isolamento, de negação, de resistência, de ajustamento a um padrão; e, naturalmente, nesse processo não há vida, havendo, por conseguinte, uma sensação de vacuidade, uma sensação de frustração. Claro que amar alguém é estar em comunhão com essa pessoa, não num determinado grau, mas completa, integral e profusamente; porém, nós não conhecemos esse amor. Só conhecemos o amor como sensaçãoos meus filhos, a minha mulher, a minha propriedade, o meu conhecimento, a minha realização; e isso é novamente um processo de isolamento. A nossa vida, em todas as direcções, leva à exclusão; ela é um impulso de auto-isolamento da parte do pensamento e do sentimento; às vezes conseguimos nos comunicar com o outro. Eis por que existe esse enorme problema.
Ora, esse é o estado actual da nossa vida — respeitabilidade, posse e vazio — e a pergunta é como proceder para irmos além dele. Como ir além dessa solidão, desse vazio, dessa insuficiência, dessa pobreza interior? A meu ver, a maioria de nós não deseja fazê-lo. A maioria de nós fica satisfeita com a maneira como é; é muito cansativo descobrir uma coisa nova, e por isso preferimos permanecer como estamose aí reside a verdadeira dificuldade. Temos muitas coisas que nos dão segurança; construímos paredes ao redor de nós mesmos, com as quais estamos satisfeitos e, ocasionalmente, há um murmúrio vindo de além da parede; há de vez em quando um terremoto, uma revolução, uma perturbação que logo neutralizamos. Desse modo, a maioria de nós na realidade não quer ir além do processo de auto-isolamento; tudo o que procuramos é um sucedâneo, a mesma coisa numa outra forma. Nossa insatisfação é bem superficial; queremos uma coisa nova que nos satisfaça, uma nova segurança, uma nova maneira de nos proteger — o que é, mais uma vez, o processo de isolamento. O que estamos procurando, a bem dizer, não é ir além do isolamento, mas reforçá-lo de modo que ele venha a ser permanente e livre de interferências. São poucos os que desejam derrubar as barreiras e ver o que existe para além disso que chamamos de vacuidade, solidão. Aqueles que buscam um sucedâneo para o antigo ficarão satisfeitos ao descobrir algo que proporcione uma nova segurança, mas há evidentemente quem queira ir além disso; por isso, prossigamos com eles.
Ora, para ir além da solidão, do vazio, é preciso compreender todo o processo da mente. O que é isto que chamamos de solidão, de vazio? Como sabemos que é vazio, que é solidão? A partir de que critério vocês dizem que é isto e não aquilo? Quando vocês dizem que é solidão, que é vazio, qual é a referência? Vocês só podem sabê-lo a partir das medidas proporcionadas pelo antigo. Vocês dizem que algo é vazio, vocês o nomeiam, e julgam tê-lo compreendido. Não será o próprio acto de nomear um empecilho à sua compreensão? A maioria de nós sabe o que é a solidão, da qual estamos a tentar escapar. A maioria de nós tem consciência dessa pobreza interior, dessa insuficiência interior. Não se trata de uma reacção abortiva, mas de um facto; e ao lhe dar um nome não o podemos dissolver — ele está presente. Ora, como conhecemos seu conteúdo, como chegamos a saber qual é a sua natureza? Vocês conhecem alguma coisa por lhe dar um nome? Vocês conhecem-me ao me chamar por um nome? Vocês só podem conhecer-me quando me observam, quando têm comunhão comigo, mas chamar-me por um nome, dizer que sou isso ou aquilo, obviamente põe fim à comunhão comigo. De modo semelhante, para se conhecer a natureza daquilo que denominamos solidão, tem de haver comunhão com ela, e a comunhão não é possível se vocês a nomeiam. Para compreender alguma coisa, é preciso antes de tudo fazer cessar o acto de nomear. Se desejam de facto entender o vosso filho — o que eu duvido — o que vocês fazem? Vocês olham para ele, observam-no a brincar, contemplam-no, estudam-no. Em outras palavras, vocês amam aquilo que desejam compreender. Quando vocês amam alguma coisa, há naturalmente comunhão com essa coisa, mas o amor não é uma palavra, um nome, um pensamento. Vocês não podem amar aquilo a que dão o nome de solidão porque não têm plena consciência dela, porque a abordam com medo — não medo da solidão, mas de outra coisa. Vocês não pensaram sobre a solidão porque não sabem de facto o que ela é. Não riam; isto não é um argumento inteligente. Pensem bem no assunto enquanto falamos e verão todo o seu alcance.
Logo, aquilo que denominamos "vazio" é um processo de isolamento que é o produto do relacionamento quotidiano, porque, no relacionamento, consciente ou inconscientemente, estamos procurando a exclusão. Vocês querem ser o proprietário exclusivo daquilo que lhes pertence, da mulher ou do marido, dos filhos; querem caracterizar a coisa ou pessoa como meu, o que evidentemente significa aquisição exclusiva. Esse processo de exclusão deve inevitavelmente levar a um sentimento de isolamento; e como nada pode viver em isolamento, há conflicto, e estamos tentando escapar desse conflicto. Todas as formas de fuga que podemos conceber — as actividades sociais, a bebida, a busca de Deus, a puja, a realização de cerimonias, a dança e outras diversões — estão no mesmo nível: e se vemos na vida diária esse processo total de fuga do conflicto e queremos suplantá-lo, temos de compreender o relacionamento. Só quando a mente não está escapando de nenhuma maneira é possível estar em comunhão directa com aquilo a que damos o nome de solidão: o só; e para haver comunhão com isso, tem de haver afeição, tem de haver amor. Noutras palavras, vocês têm de amar a coisa para compreendê-la. O amor é a única revolução, e o amor não é uma teoria nem uma ideia; ele não segue nenhum livro nem padrão de comportamento social.
Logo, a solução do problema não vai ser encontrada nas teorias, que servem somente para aumentar o isolamento. Ela só será encontrada quando a mente, que é pensamento, não estiver empenhando em fugir da solidão. A fuga é um processo de isolamento, e a verdade é que só pode haver comunhão quando há amor. Só então é resolvido o problema da solidão. "
Krishnamurti – Sobre o amor e a solidão - Cultrix


Depois disto, nem tenho palavras a dizer, ja' que esta é uma das pessoas que faz valer cada palavra que lhe sai da boca.

Fiquem bem e lutem por isso!

2 comentários:

  1. Realmente...é incrível, o meu maior respeito por este homem sábio, espero que as palavras dele não sejam em vão para aqueles que têm a honra de as receber.

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  2. Extremamente sociológico...
    A liberdade é uma escolha mas só até certo ponto... Tive uma cadeira semestral dedicada a isto. Depois deste texto se vê que a universidade só ensina até certo ponto!!
    Grande descoberta!!

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