27 de setembro de 2010

Ogre ocidental




Existem razões infinitas para me sentir desintegrado
Ânsias esquisitas a decorrer a ritmo desesperado
No espaço em que morrem mais cem
E enriquecem mais três.

Existem em mim ganas de querer acabar com isso
Garra para quebrar o enguiço
Mas demasiada falta de bem
Demasiada falta de lucidez.

Aterrei agora no Afeganistão
No meio desta confusão
Da qual me sinto culpado não sei porquê
Na qual vejo o que pouca gente vê.

Sinto-me mal
Apenas por ser um privilegiado ocidental
Habitado num Mundo acidental
Crescido e endurecido num ambiente abismal.

19 de setembro de 2010

A poluição do Facebook

Este é um vídeo feito pela Greenpeace sobre as fontes de energia que o Facebook usa para o seu data center. Já agora, devo dizer que não gosto de fazer parte da "malta do contra" mas as redes sociais não me inspiram muita confiança. Espero comments depois respondo a eles para me explicar. Abraço.

2 de setembro de 2010

Violência em Moçambique

   O gosto que tenho pela escrita leva-me inevitavelmente a desenvolver o meu lado mais imaginativo. Por isso gosto de imaginar. Hoje pus-me a imaginar como será a vida de um regular cidadão de Moçambique. Imagino com será nascer lá, num país de contrastes extremos, onde a dimensão natural do país é simplesmente incrível, mas onde a dimensão social está imensamente longe desse estado de equilíbrio. Isto é completamente contra-natura. Isto é mais uma vez causado pela busca cega do lucro. Imagino o que será nascer lá, crescer vendo belos animais, lindas paisagens, sentir uma liberdade extrema e infantil própria do nosso crescimento - acentuada em quem cresce no meio dessa beleza e no meio desse contraste. Imagino o que será ver os pais saírem de casa bastante cedo desde criança para irem todos os dias para o trabalho. Trabalharem quiçá em horários completamente desumanos, dia após dia, chegando a casa cansados e sem poderem aproveitar a beleza que o seu país pode proporcionar aos seus olhos. Tudo isto para ver ainda os seus filhos passarem fome, talvez com um pouco de sorte conseguindo gerar recursos financeiros para alimentar os seus filhos e passarem eles próprios fome. Imagino a dor que será para estes pais nem sequer poderem dar uma educação escolar mínima aos seus filhos, apesar do trabalho que realizam. Estas minhas divagações, esta minha imaginação, acaba por não ser assim tão ilusória, de todo. Existem de facto pessoas que cresceram neste ambiente, imbuídos nesta revolta diária, crescendo assim 24 horas por dia, 365 dias por ano, e quando chegam aos quinze anos, são cinco mil quatrocentos e setenta e cinco dias de revolta. Bastantes destes  dias foram passados com fome e falta de condições mínimas. Depois de tudo isto vêem ainda o seu governo, que supostamente devia zelar pelo bem-estar do seu povo, mas que é corruptamente gerido pelos interesses de povos mais ricos, subir ainda mais os preços dos bens mais essenciais, como o pão, a água e os combustíveis. Depois de tanto tempo de sofrimento, depois de tanta violência que imagino que os olhos de tantos moçambicanos viram, você, caro leitor, estando na posição destas pessoas, quereria lá saber das razões porque o fazem, quereria lá saber que a razão destes aumentos é porque houve um prejuízo enorme nas grandes empresas do ocidente? Interessar-se-ia você por isso? Caso eu fosse natural de Moçambique, eu não quereria saber. Não é justo - PONTO! Não é justo trabalhar tanto, sofrer tanto, para passar fome, não é justo querer mostrar a nossa revolta e sermos ainda apelidados de "criminosos" - não é justo - PONTO! Eu como cidadão português, neste momento a habitar em França, manifesto o meu total apoio ao povo de Moçambique.
   No passado dia 31 de Agosto, Terça-Feira, depois das polémicas subidas dos preços dos bens essenciais em Moçambique, correu entre o povo a mensagem de que iria haver uma manifestação popular, de que teria de haver uma manifestação. O povo uniu-se e manifestou a sua revolta tapando vias de acesso a Maputo. Entre o povo estava gente de várias idades, incluindo essas crianças crescidas e amadurecidas, endurecidas no meio da revolta diária paralela aos seus anos de vida. Viram-se carros serem queimados, armazéns destruídos. No fundo, uma demonstração material da revolta que o povo sente. A polícia respondeu com tiros, decidiu tratar da violência com maior violência e o resultado desta acção pouco habitual em quem deve zelar pela segurança do povo, mesmo quando o povo se revolta, foi a morte de 6 pessoas (até às 21 horas), entre elas duas crianças, uma delas de apenas 11 anos. 
Pensará o caro leitor, que se encontra longe de Moçambique, que esta atitude do povo é desnecessária e que não levará a nada. Porém, nós estando longe, não temos também o direito de julgar as pessoas pelo que fizeram. Eu pelo meu lado sinto-me de acordo, desolado sim pela reacção das autoridades. Provavelmente as tentativas de resposta a estas leis completamente injustas por vias legais e pacíficas foram muitas e revelaram-se infrutíferas, provavelmente nós quando nos sentimos completamente impotentes, injustiçados e revoltados, reagimos com violência - isso faz parte da condição humana, que todos temos, sejamos nós de que origem formos, de que nacionalidade formos, a que família pertençamos. Peço ao leitor que não julgue o povo de Moçambique, julgue sim quem colocou um país tão rico em recursos naturais no estado social em que está.


Fiquem bem e lutem por isso.